Via RioOnWatch
Rio de Janeiro, 6 de maio de 2021. Equipes da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil (CORE) iniciam uma operação policial na favela do Jacarezinho, Zona Norte. Eram nove horas da manhã quando o coletivo Laboratório de Dados e Narrativas, LabJaca, informou: “Hoje o Jacarezinho acordou debaixo de tiros, como não se via há muito tempo. São três baleados até o momento, um policial civil e dois trabalhadores que estavam no metrô”. O coletivo pede: “Fica ligado morador! Nossa Proteção em primeiro lugar!” Pelas redes sociais, moradores da comunidade, relatam: “Estamos presos dentro de casa sufocando com a bomba de pimenta e não tem como sair”, enquanto um helicóptero blindado—conhecido como caveirão aéreo—sobrevoa um mar de casas de tijolos. Tratava-se da Operação Exceptis.
Segundo a Polícia Civil, a Operação Exceptis se deu devido a investigações que apontam que crianças e adolescentes da região estavam sendo aliciados por traficantes para integrar a facção que domina o território.
Era só o começo da barbárie e de um dia de terror para 37.000 moradores do Jacarezinho—população estimada pela Prefeitura do Rio. Ao longo do dia, o número de feridos e mortos foi aumentando assustadoramente. Até o meio dia, a polícia já confirmava 15 mortos. Às 13h04, já com organizações de direitos humanos no local, em nova atualização, o número da carnificina seria novamente atualizado.
Foram 29 pessoas baleadas durante a operação policial no Jacarezinho, entre eles três policiais civis, com 25 pessoas mortas: 24 civis e um policial na incursão de agentes de segurança do Estado mais letal da história do Rio de Janeiro, de acordo com levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da UFF e da plataforma Fogo Cruzado. A operação durou mais de sete horas.


O policial civil André Farias, de 45 anos, alvejado na operação, chegou a ser levado para o Hospital Salgado Filho, no Méier, mas veio a óbito. Foi o único encaminhado para receber atendimento médico entre as pessoas baleadas dentro da favela do Jacarezinho durante a intervenção policial.
A violência da ação alcançou dois passageiros que estavam no trem do metrô da linha 2, sentido Zona Norte, que corta a favela do Jacarezinho entre as estações de Maria da Graça e Triagem. Rafael Silva, de 33 anos, e Humberto Gomes Duarte, de 20, foram alvejados por balas perdidas durante a operação policial. Segundo as informações da Secretaria Municipal de Saúde, Rafael foi levado para o Hospital Salgado Filho e deixou a unidade à revelia. Humberto foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e está com o estado de saúde estável.
A Operação Exceptis aconteceu três semanas após a audiência pública do STF, sobre a ADPF 635, com objetivo de produzir estratégias para redução da letalidade nas favelas em operações policiais no Rio de Janeiro. Na audiência, realizada em 19 de abril, mais de 100 organizações foram ouvidas, incluindo moradores que pertencem a movimentos sociais das favelas e mães vítimas de violência de Estado—que foram ouvidos como amigos da corte—além de entidades de direitos humanos e especialistas em segurança pública, dentre elas, o Instituto Fogo Cruzado.
“Monitoramos ações no Jacarezinho há cinco anos. Infelizmente, existe um histórico de ações muito violentas registrada lá, principalmente quando há morte de policiais, o que é classificado como operações de vingança. Desde que o Fogo Cruzado começou a monitorar os dados, registramos 269 tiroteios no Jacarezinho, com 68 mortos e 67 feridos”, afirma Maria Isabel Couto, diretora de Programas do Instituto Fogo Cruzado.
De acordo com dados analisados por Maria Isabel, em cinco anos, apesar das operações policiais representarem 35% do total de tiroteios na localidade, das 68 mortes, oficialmente, 60 ocorreram por ação de agentes de segurança do Estado, o que equivale a 88% das pessoas mortas por perfuração por armas de fogo (PAF). No total de feridos, a polícia foi a responsável por 85% dos casos.
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