Uma pesquisa inédita da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o número de mortes por Covid-19 no Brasil em 2020 foi 18,2% maior do que o registrado. Segundo a análise, no ano passado houve 230.452 óbitos pela doença e não 194.949. A diferença entre os números se deve tanto à demora no registro de óbitos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, quanto à reclassificação das causas de morte, decorrente da investigação nas esferas municipal, estadual e federal.
De acordo com o coordenador do estudo, Cristiano Boccolini, os dados utilizados na pesquisa estão acessíveis desde de maio deste ano e, de fato, não poderiam ter sido consultados antes. Ele explica que, por natureza, o SIM tem um longo tempo de processamento dos dados, que pode variar de 27 a 190 dias entre a data do óbito e a consolidação do registro. A demora, no entanto, não compromete em nada a eficiência do sistema que, segundo Boccolini, está entre os melhores sistemas de informação do mundo:
“Além de ter uma cobertura quase universal das mortes que acontecem em território nacional, é bastante seguro, pois tem uma série de processos e etapas de controle de qualidade”, afirma o pesquisador em Saúde Pública do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
Estatísticas
Ao considerar a distribuição das mortes por tipos de ocupação, a pesquisa indica que as categorias profissionais com maior número de mortes foram dos setores de produção de bens e serviços industriais (22%), comércio (19%) e agropecuário, que inclui atividades florestais e pesca (18%).
De acordo com Boccolini, esses números podem ser ainda mais altos, pois 58,7% das declarações de óbito não registraram o tipo de ocupação. O pesquisador chama atenção para os altos índices de óbito entre os trabalhadores dos chamados “serviços essenciais”, que não puderam ser interrompidos e nem adaptados para o ‘home office’. Segundo ele, isto “escancara o peso das desigualdades sociais no cenário da Covid-19”.
Em relação à faixa etária das vítimas de Covid-19, a pesquisa mostra que três em cada quatro óbitos aconteceram em pessoas com mais de 60 anos de idade (175.471 idosos). Nesse grupo, a faixa etária mais afetada foi a de 70 a 79 anos, que concentra 33% dos óbitos de idosos por Covid-19 em 2020.
Ainda segundo o estudo, em 2020 ocorreram 1.207 óbitos de brasileiros menores de 18 anos por Covid-19. Quase metade (45%) tinha até dois anos de idade, um terço até um ano e 9% eram recém-nascidos (com menos de 28 dias de vida). Sobre estes dados, o coordenador da pesquisa reforça que crianças e adolescentes têm melhor prognóstico quando contaminados, mas não estão imunes. Ele também acrescenta que mesmo com o aumento da cobertura vacinal de adultos neste ano, o uso de máscaras e o distanciamento social continuam sendo a melhor forma de conter a circulação do vírus e proteger as crianças.
Os resultados do estudo, financiado pelo Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz), serão publicados no painel Monitora Covid-19 da Fiocruz.
Terceira dose
Na última quarta-feira (25), o Ministério da Saúde recomendou o reforço na imunização contra a Covid-19 para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos. A terceira dose da vacina deve começar a ser aplicada a partir da segunda quinzena de setembro.
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De acordo com a recomendação, a dose de refoço será orientada às pessoas imunossuprimidas que tomaram a segunda dose (ou dose única) há pelo menos 28 dias e aos idosos, acima de 70 anos, que completaram o ciclo vacinal há seis meses. O Ministério da Saúde explica que a terceira dose vale para quem tomou qualquer vacina usada na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 e será realizado, preferencialmente, com uma dose da Pfizer/BioNTech. Na falta do imunizante, o reforço pode ser feito com as vacinas da Janssen ou Astrazeneca.
Além do reforço na imunização, o Ministério da Saúde anunciou também a redução do intervalo entre as doses da Pfizer e Astrazeneca de 12 para oito semanas. A previsão é que essa atualização também seja feita a partir da segunda quinzena de setembro.
Edição: Jaqueline Deister