O Fundo ELAS+ lança, nesta sexta-feira (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos, a publicação “Ativismo e Pandemia no Brasil”, que traz a síntese de uma pesquisa realizada pela organização sobre o impacto da pandemia de Covid-19 em organizações da sociedade civil lideradas por mulheres e pessoas trans no Brasil.
O estudo apresenta um retrato de como 953 grupos e organizações de mulheres de todas as regiões do país enfrentaram o impacto da pandemia em suas comunidades e organizações e que soluções encontraram. Com isso, segundo o ELAS+, a publicação permite ao público conhecer melhor os campos do ativismo de mulheres e LBTIs e da filantropia no Brasil.
O evento de lançamento será realizado de forma virtual das 19h às 21h e contará com a participação de pesquisadoras, especialistas em filantropia, institutos e lideranças de grupos que contribuíram com o estudo.
Entre as presenças confirmadas estão as coordenadoras da publicação, Angela Donini e Iracema Souza; a diretora de programas do Instituto Ibirapitanga, Iara Rolnik; a diretora executiva do Instituto Humanize e conselheira do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), Georgia Pessoa e o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques.
Também participarão do evento representantes do Geledés Instituto da Mulher Negra, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras e do Coletivo Sapato Preto. A abertura será por conta das ativistas feministas e coordenadoras do ELAS+ Amalia Fischer e K.K. Verdade.
O encontro será transmitido simultaneamente nos canais oficiais do ELAS+ no Youtube e Facebook.
Pesquisa
De acordo com o Fundo ELAS+, a pesquisa “Impacto da pandemia de Covid-19 em organizações da sociedade civil lideradas por mulheres e pessoas trans no Brasil” constata a “capacidade de transformação, de adaptação e de inovação” das organizações lideradas por mulheres no país. Conforme aponta o estudo:
“Com pouco ou nenhum recurso, [as organizações lideradas por mulheres] promoveram impactos positivos em seus territórios e localidades. Elas estão resistindo a todos os desafios e precisam de mais apoio”.
Ainda segundo a publicação, para superar as consequências da pandemia da Covid-19, “as organizações e os grupos foram proativos, atuaram na linha de frente, facilitaram a interlocução entre comunidade e Estado; ampliaram e fortaleceram redes; proporcionaram acolhimento e acompanhamento; executaram ações para a equidade digital; e reinventaram seus ativismos”.
A partir dos relatos das lideranças ativistas, o estudo reúne dados sobre trabalhadoras domésticas, profissionais do sexo, mulheres negras, empreendedoras sociais, mulheres com deficiência, jovens, mulheres do campo, quilombolas, indígenas e ativistas da arte e da cultura. Entre as temáticas trabalhadas pelas ativistas que compõem a pesquisa estão o enfrentamento do racismo, justiça climática e desenvolvimento sustentável, fim da violência, desigualdade digital e tecnológica, participação política das mulheres, direitos LGBTI+, direito à terra, justiça reprodutiva, direito à cidade e à mobilidade, entre outras.
Dados
Dentre os resultados alcançados pela pesquisa, chama atenção a constatação de que a maioria (56%) das organizações ou dos grupos de ativistas analisados não são formalizados. O que, segundo o ELAS+, “exige novos formatos e novas modalidades de investimento, assim como ações de flexibilização de recursos” para garantir a continuidade do trabalho desenvolvido por tais grupos.
Outro dado importante diz respeito à capacidade de “autofinanciamento” das organizações analisadas. As fontes de recursos mais citadas na pesquisa foram: trabalho voluntário (62,4%), doações individuais (53,4%), realização de eventos (49%) e vendas (36,6%).
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De acordo com a publicação, embora o autofinanciamento demonstre a importância do investimento das próprias ativistas na construção de uma sociedade justa e sustentável, por outro lado, ele “não é suficiente para manter as organizações e grupos” e pode, inclusive, “contribuir para a precarização do trabalho ativista”.
Ainda neste sentido, a pesquisa também aponta que as organizações têm pouco acesso ao “ecossistema filantrópico” e “esbarram na desigualdade de acesso aos recursos, principalmente no Norte, onde está a Amazônia, e no nordeste do país”.
“Pobreza digital”
A pobreza digital na qual estão inseridas as organizações lideradas por mulheres, principalmente negras, indígenas e jovens, também é evidenciada nos depoimentos colhidos pela pesquisa. Conforme o texto da publicação:
“É urgente que o ‘ecossistema da filantropia para justiça social’ direcione investimento para ampliar o acesso à tecnologia e à equidade digital”.
O estudo ainda salienta que “as organizações não formais lideradas por indígenas, negras, quilombolas, ribeirinhas, estão na linha de frente e precisam de investimento para fortalecimento institucional, em infraestrutura e em equipes”.
A pesquisa “Impacto da pandemia de Covid-19 em organizações da sociedade civil lideradas por mulheres e pessoas trans no Brasil” foi produzida a partir de informações fornecidas por grupos e organizações de mulheres e LBTI inscritos no edital online “Mulheres em Movimento 2020: fortalecendo a solidariedade e a confiança”. Os dados utilizados no estudo foram coletados entre os meses de julho e agosto de 2020.
Edição: Jaqueline Deister