A luta dos trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) em defesa da comunicação pública no país será homenageada por uma das mais significativas distinções jornalísticas do país.
Em caráter excepcional, a 44ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (PVH) dedicará o “Prêmio Especial Vladimir Herzog de Contribuição ao Jornalismo” aos trabalhadores da estatal “pela resistência na defesa da comunicação pública”. Segundo os organizadores da premiação, trata-se de uma homenagem “aos profissionais que fazem e defendem a comunicação pública no Brasil”.
Para Juliana Cézar Nunes, coordenadora-geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) e jornalista licenciada da EBC, o reconhecimento do prêmio reforça, para os próprios comunicadores da empresa, a confiança de que estão “caminhado no lado certo da história”.
“Para nós, esse prêmio é quase que um abraço, um acalanto diante de tudo o que a gente tem passado. É como se nos ajudasse a perceber ainda mais que a gente tem caminhado no lado certo da história, que é o lado que denuncia, é o lado que resiste e é o lado que se contrapõe a tantas arbitrariedades que vem sendo cometidas por esse governo”, comentou à Pulsar.
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Juliana lembra que desde o governo de Michel Temer (MDB) a EBC tem sofrido uma série de ataques e desmontes que vão desde a cassação do Conselho Curador da empresa, ainda em 2016, até tentativas de privatização, censura de pautas, perseguições a jornalistas e aparelhamento para fins eleitorais durante a gestão do governo Bolsonaro. Em março deste ano, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região condenou a EBC em R$ 200 mil por assédio moral coletivo a seus trabalhadores.
“Nós chegamos a ter 20% dos colegas afastados por problemas de saúde mental decorrentes desse ambiente altamente insalubre de trabalho. São colegas que fizeram o debate nas redações para que houvesse a cobertura das pautas relacionadas à população negra e indígena, para que houvesse uma cobertura da pandemia que priorizasse a saúde pública e o interesse público, que não abrisse espaço para o negacionismo, para que a comunicação pública pudesse ser esse espaço onde a população pudesse encontrar as orientações para passar um período tão difícil como foi esse período da pandemia”, relatou.
Para além do reconhecimento da luta dos trabalhadores da EBC, Juliana ressalta que o prêmio também serve como alerta para a sociedade e futuros governantes sobre a importância que precisa ser dada para a comunicação pública nos próximos anos. Como exemplos dos desafios para a “reconstrução da EBC” nos próximos anos, a jornalista cita: a reativação da Rádio Nacional da Amazônia, o restabelecimento do diálogo com as rádios comunitárias, a abertura da empresa para produções além do eixo Rio-São Paulo e a retomada da cobertura da pauta sobre a América Latina.
“A comunicação pública está prevista na nossa Constituição e é preciso que a gente entenda esse outro sistema de comunicação, que não é nem privado, nem estatal, nem legislativo, mas sim da população brasileira. Tem que ter uma gestão participativa, um conselho curador e tem que estar atento aos interesses da sociedade como um todo. Ela precisa do investimento público, mas como uma escola pública, um hospital público, ela precisa ter autonomia e independência para que possa cumprir sua missão que é informar devidamente a população brasileira”, concluiu.
Premiação
Criado em 1979, quatro anos após a tortura e assassinato do jornalista Vladimir Herzog por agentes da ditadura militar, o PVH tem como objetivo reconhecer, ano a ano, trabalhos que defendem e valorizam a democracia e os direitos humanos. O prêmio tem abrangência nacional e é dividido em sete categorias: produção jornalística em texto; produção jornalística em áudio; produção jornalística em vídeo; produção jornalística em multimídia; fotografia; arte; e livro-reportagem.
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Em 2022, além dos trabalhadores da EBC, o PVH também homenageará as jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, criadoras do Portal Amazônia, e o médico infectologista Dráuzio Varella. Os três receberão o troféu símbolo do Prêmio – a meia lua recortada com a silhueta de Vlado Herzog, uma criação do jornalista, artista plástico e designer Elifas Andreato, falecido em março deste ano.
O repórter britânico Dom Phillips será homenageado in memoriam por sua trajetória marcante no jornalismo em defesa do meio ambiente, na preservação da floresta amazônica e de seus povos. Segundo os organizadores do Prêmio: “Honrar a vida profissional e pessoal de Dom passou a ser compromisso público dos que atuam com Direitos Humanos”.
A sessão pública de julgamento e divulgação dos vencedores das sete categorias do PVH será realizada no dia 13 de outubro, com transmissão ao vivo. A solenidade de premiação ocorrerá no dia 25 do mesmo mês, no teatro Tucarena, em São Paulo.
Confira a lista completa dos trabalhos premiados em edições passadas.
Edição: Jaqueline Deister