

Reportagem Fernando Tocco, da Rádio Sur de Buenos Aires
A Argentina atravessa uma semana de forte pressão sobre o preço do dólar no mercado ilegal, o que causou um novo aumento da moeda estrangeira, que chegou a 420 pesos. Em ano eleitoral, em que o destino do governo nacional está em jogo, setores da economia ligados à especulação promoveram mais uma vez o aumento do preço do chamado “dólar blue”, que nada mais é do que um mercado paralelo ilegal que influencia diretamente o atual processo inflacionário no país.
Na semana passada foram divulgados os números da inflação para março – que chegou a 7,7% –, impulsionados, principalmente, pelo aumento dos preços dos alimentos. Os índices estabeleceram um novo recorde anual de mais de 100%, o valor mais alto dos últimos 32 anos.
As pressões no câmbio não estão ocorrendo por acaso. Recentemente, o grupo mais influente de empresários do país se reuniu em um simpósio anual, onde vozes que promovem uma nova dolarização da economia argentina foram ouvidas abertamente. Entre eles podemos destacar a presença de Eduardo Elsztain do Grupo IRSA, o principal especulador imobiliário do país, Marcos Galperin do Mercado Libre, Marcos Bulgheroni da Pan American Energy e Facundo Gómez Minujn, representante e gerente do J.P. Morgan na Argentina.
Desta forma, o país sofre com uma forte iniciativa política do poder concentrado que tenta condicionar a economia do país não apenas durante o ano eleitoral, mas, sobretudo, nos próximos anos, em um momento em que o endividamento está crescendo devido à dívida pública e à fuga de capital, seja para o pagamento de juros pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou para a colocação de ativos estrangeiros de residentes na Argentina.
Há setores de poder econômico concentrado que continuam a receber grandes concessões do governo argentino em detrimento dos setores empobrecidos por este modelo, como é o caso do recente “dólar agrícola”, que nada mais é do que uma taxa de câmbio privilegiada para os exportadores agrícolas de soja, ou a troca de títulos públicos com órgãos oficiais para facilitar o acesso do capital privado à moeda estrangeira.
A estratégia foi baseada em uma excessiva especulação para mostrar que há um aumento da moeda internacional e para induzir uma aceleração da desvalorização do peso argentino. Embora o governo do presidente Alberto Fernandez tenha negado uma nova dolarização do mercado, ele acompanhou a desvalorização da taxa de câmbio oficial a fim de não ficar tão atrás dos preços da moeda estrangeira e dos preços da economia local e internacional.
Edição: Filipe Cabral