Redação
A Mesa Diretora da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro decidiu, nesta quarta-feira (6), dar continuidade ao processo que pode levar à cassação do mandato do vereador, influenciador digital e ex-policial militar, Gabriel Monteiro (PL).
O pedido de representação contra o parlamentar foi aberto na terça-feira (5) em votação unânime (sete votos a zero) do Conselho de Ética da Casa. Com a autorização da Mesa Diretora, o processo segue para análise da Comissão de Justiça e Redação da Câmara, que tem até cinco dias úteis para se manifestar.
Terceiro vereador mais votado no Rio, com mais de 60 mil votos nas eleições de 2020, Gabriel Monteiro é acusado de assédio moral e sexual, violação dos direitos de criança e uso indevido de servidores da Câmara.
Caso o parecer da Comissão de Justiça e Redação seja favorável ao prosseguimento da ação, o processo voltará ao Conselho de Ética, onde será feito um sorteio para definir quem será o relator do caso. Quando o processo chegar ao fim no Conselho de Ética, caberá ao plenário da Câmara deliberar, em votação aberta, sobre eventual punição ao político.
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O prazo total para a conclusão do processo é de 90 dias. Para a cassação do mandato de Monteiro, são necessários dois terços dos vereadores (34 votos). Já para a suspensão, basta a maioria absoluta do plenário (26 votos). De acordo com a Lei da Ficha Limpa, mesmo que o vereador renuncie, ele ficará inelegível pelos próximos oito anos, a menos que o processo seja arquivado ou que a Câmara decida pela absolvição.
Além das acusações que constam no processo na Câmara, o influenciador digital também é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil por abuso sexual, estupro, tentativa de suborno, constrangimento ilegal e fraude processual.
Influenciador
Nas últimas semanas, uma série de denúncias contra Monteiro tem sido reveladas pela imprensa. Entre as vítimas estão servidores, ex-funcionários, mulheres e até uma criança que, segundo revelou reportagem do Fantástico, foi induzida pelo ex-PM a participar de um vídeo forjado dizendo que estava com fome e que tinha pai alcoólatra.
Com mais de 5,6 milhões de seguidores no Instagram e 6,28 milhões de inscritos em seu canal no YouTube, o vereador também é acusado de manipular cenas de vídeos de supostos confrontos em favelas para garantir audiência nas redes. Na última segunda-feira (4), inclusive, um assessor e um ex-assessor de Gabriel foram até a 29ª DP (Madureira) afirmar que Gabriel teria forjado os tiros que atingiram um dos carros de sua comitiva em suposto confronto na Zona Norte do Rio em agosto do ano passado.
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De acordo com a Polícia Civil, o caso vinha sendo apurado pela delegacia como tentativa de homicídio contra Monteiro e sua equipe. Contudo, com a mudança nos depoimentos do cinegrafista Robson Coutinho da Silva e do editor Heitor Monteiro, o vereador deverá ser chamado a prestar esclarecimentos e o carro em questão poderá passar por uma nova perícia.
Ainda sobre a atuação nas redes sociais, em março deste ano, Monteiro foi condenado a pagar uma indenização por danos morais de R$ 20 mil a um médico que trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio, por constrangê-lo em seu local de trabalho.
O caso ocorreu em setembro do ano passado. Enquanto gravava um vídeo de uma ação de fiscalização na unidade, o vereador foi até a sala de descanso dos funcionários e insinuou que o profissional fazia sexo com uma colega de trabalho durante o expediente. Na decisão, publicada no último dia 11 de março, o juiz Mauro Nicolau Júnior classificou a conduta do parlamentar como “exercício arbitrário e abusivo dos poderes de seu cargo”.
Monetização
Por conta do acumulado de denúncias, o movimento Sleeping Giants Brasil iniciou, nas últimas semanas, uma campanha para acabar com a monetização do canal do vereador no YouTube. De acordo com o movimento, até o momento 19 empresas já sinalizaram que não desejam ter suas marcas atreladas aos anúncios exibidos no canal do ex-policial. O próprio YouTube informou que está analisando se o vereador violou as regras da plataforma.
Após a abertura da representação contra Gabriel na Câmara do Rio, o vereador Tarcísio Motta (Psol) apresentou um projeto com apoio de 19 vereadores para impedir que parlamentares possam ganhar dinheiro através da monetização nas redes. De acordo com a proposta, os vereadores seriam proibidos de monetizar conteúdos que tenham como objeto o exercício do mandato ou de receber receitas em função de conteúdo com emprego de recursos públicos.
Edição: Jaqueline Deister