Nesta quarta-feira (14), completam-se quatro anos que o Brasil e o mundo perguntam: “Quem mandou matar Marielle Franco e por quê?”.
Desde que a vereadora foi assassinada junto com o motorista Anderson Gomes, o caso já passou pelas mãos de 5 delegados, 11 promotores e promotoras, 3 governadores e, até hoje as famílias das vítimas seguem sem saber quem são os mandantes e qual foi a motivação do crime.
Ao longo do dia, grupos e organizações brasileiras e internacionais realizaram homenagens e atos públicos para defender a memória e cobrar justiça para Marielle e Anderson. De acordo com o Instituto Marielle Franco, organização criada pela família da ex-vereadora, o “Março Por Marielle e Anderson” deste ano contou com atividades em cidades de todo o Brasil e em países como Argentina, Suíça, Bélgica e Alemanha.
Segundo o Instituto, além do luto coletivo e a ausência de respostas sobre o assassinato de Marielle e Anderson, os últimos quatro anos também foram marcados também pela luta contra a Covid e o negacionismo e pelas eleições presidenciais (2018) e municipais (2020). Em 2022, com a aproximação de “mais uma disputa eleitoral que irá decidir o futuro da democracia brasileira”, os familiares da defensora de direitos humanos garantem:
“Estamos aqui, permanecendo de pé, para seguir o legado de Marielle e das mulheres negras, defender as suas memórias, regar as suas sementes e lutar para que não sejamos interrompidas”.
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Por Marielle e Anderson
Na manhã desta quarta-feira, representantes do Comitê Justiça Por Marielle e Anderson promoveram um protesto em frente ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para exigir acesso aos autos de investigação e a solução do crime. Durante a ação, os advogados das famílias das vítimas protocolaram um mandado de segurança no TJ para que as informações dos autos sobre os mandantes do assassinato sejam compartilhadas com as famílias e seus representantes legais.
À tarde, foi a vez dos representantes do Comitê se reunirem com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Além das famílias das vítimas, o Comitê é composto pelo Instituto Marielle Franco, a Anistia Internacional Brasil, Justiça Global, Coalizão Negra por Direitos, Terra de Direitos.
Em relação à exigência do acesso aos autos de investigação pela família, a diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, reconhece que a preocupação dos órgãos de segurança e justiça com o combate ao vazamento de informações no curso das investigações é fundamental. Contudo, segundo ela, as famílias e seus advogados têm o direito de participar em todas as etapas da investigação.
“Respeitar o sigilo não significa faltar com a transparência. A falta de justiça pela morte de um defensor ou uma defensora [de direitos humanos] gera um efeito amedrontador para todas as outras pessoas que defendem a dignidade e a vida. E há consequências imediatas e de longo prazo para toda a sociedade, como foi o assassinato de Marielle e Anderson”, afirmou a diretora da Anistia.
Na última quarta-feira (9), representantes do Comitê e os pais de Marielle se reuniram com o delegado Alexandre Herdy, novo titular da Delegacia de Homicídios da capital, para entender quais são os passos em andamento na investigação. Herdy é o quinto delegado a assumir o caso. Antes dele o inquérito esteve sob responsabilidade dos delegados Giniton Lages (2018-2019), Daniel Rosa (2019-2020), Moisés Santana (2020-2021)e Edson Henrique Damasceno (2021-2022).
Ainda na última semana, o grupo se reuniu com o Juiz da 4ª Vara do Tribunal do Júri da Capital do Rio de Janeiro e com o ministro Rogerio Schietti Cruz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Quatro anos é tempo demais. Somos movidas e movidos pelo desapontamento desta longa espera, mas também pela esperança. As autoridades devem exercer suas funções com transparência para passar uma mensagem firme de que a impunidade não será o legado do assassinato de Marielle e Anderson. E a sociedade civil tem o direito de reivindicar essa postura do poder público”, afirmou Jurema Werneck.
Histórico
Marielle e Anderson foram executados em março de 2018, no Estácio, região central do Rio, quando voltavam de um evento de mulheres realizado no bairro da Lapa.
Em 2019, a polícia prendeu o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz. Ambos são acusados de serem os executores do crime. Os ex-PMs estão presos nas penitenciárias federais de Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO).
Em março de 2021, a Justiça do Rio determinou que Ronnie e Élcio sejam julgados por júri popular pelas duas mortes, mas a data do julgamento ainda não foi marcada. Os ex-PMs respondem por duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas.
Até hoje os policiais e promotores do Ministério Público não conseguiram localizar a arma utilizada no assassinato e nem descobriram quem foram os mandantes do crime e quais as motivações. Quatro anos após a morte de Marielle e Anderson, o inquérito segue sob sigilo na Delegacia de Homicídios da Capital.