Redação
A Colômbia elegeu, no último domingo (19), a primeira chapa presidencial de esquerda da história do país. Com mais de 11,2 milhões de votos, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro foi eleito para o cargo de presidente junto com Francia Márquez, advogada, ativista e primeira mulher negra a ocupar o cargo de vice-presidente da Colômbia.
Segundo a contagem do Registro Nacional da Colômbia, Petro e Márquez, da coalizão Pacto Histórico, receberam 50,44% dos votos e derrotaram a Liga de Governadores Anticorrupção, chapa direitista representada pelo empresário Rodolfo Hernández e Marelen Castillo, que conquistou 47,31% do eleitorado.
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Além de constituir um fato inédito em um país cuja história política é marcada pelo revezamento entre Partido Liberal e Partido Conservador, a eleição de Petro e Márquez põe fim a 20 anos do chamado “uribismo”, corrente política liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez (2002 – 2010), fundador do partido governante, Centro Democrático, e considerado mentor do atual mandatário, Iván Duque.
Além de ocupar o Executivo nacional, o Pacto Histórico também terá a maior bancada no Poder Legislativo, com 20 senadores e 29 deputados, eleitos em março deste ano.
As eleições da Colômbia também reforçam a retomada da onda de governos progressistas na América Latina. Logo após a divulgação do resultado, diversos líderes do subcontinente fizeram questão de saudar a chapa eleita. Entre eles, destacam-se os presidentes Luis Arce, da Bolívia; o mexicano Andrés Manuel López Obrador; Alberto Fernández, da Argentina; Gabriel Boric, do Chile; Xiomara Castro, de Honduras e Nicolás Maduro, da Venezuela.
Governo
Durante a campanha, Petro e Márquez ressaltaram a necessidade de reformas econômicas e sociais para combater a pobreza, a desigualdade e a exclusão no país.
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A implementação de Acordos de Paz entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc-EP) e a realização de reformas agrária, tributária e das forças de segurança foram alguma das medidas propostas pela chapa vencedora.
Aos 62 anos, além de ex-militante do M-19, movimento colombiano de guerrilha urbana surgido na década de 1970, Gustavo Petro é economista e já foi prefeito de Bogotá, capital e maior cidade da Colômbia. Antes de ser eleito presidente, Petro exercia o cargo de senador e líder da oposição ao governo de Iván Duque.
Já Francia Elena Márquez Mina, de 40 anos, é advogada e ativista premiada internacionalmente. Natural da cidade de Suárez, região de La Toma, no departamento Cauca, Márquez foi mãe solo aos 16 anos e iniciou a carreira política defendendo a comunidade em que vivia de projetos de mineração.
Integrante da Organização de Processos Comunidades Negras da Colômbia e da Associação de Mulheres Afrodescentes de Yolombó, Márquez ganhou, em 2015, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e, em 2018, o Goldman Environmental Prize, considerado o Nobel do setor ambiental. Segundo analistas políticos, a vice-presidente foi fundamental na reta final da disputa eleitoral ao mobilizar o voto da juventude e das mulheres do país.
“Depois de 200 anos, conquistamos um governo do povo. O governo dos e das ‘ninguéns’ da Colômbia. Vamos com dignidade viver de maneira saborosa”, comemorou Francia Márquez no primeiro discurso após a vitória nas eleições.
Na mesma linha, Gustavo Petro classificou a vitória nas urnas como a “somatória da resistência” no país.
“Somos a somatória de resistência da Colômbia. Somos esse passado de luta, de rebeldia contra a injustiça, a discriminação, a desigualdade”, afirmou o presidente eleito, que ainda acrescentou:
“Já não é o momento de ódio. Este governo que vai iniciar em 7 de agosto é uma gestão de vida, que quer construir a Colômbia como uma potência mundial da vida. Eu direi: primeiro é a paz, segundo a justiça social e terceiro é a justiça ambiental”.
* Com informações do Brasil de Fato