Redação
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, nesta segunda-feira (20), um relatório em que aponta a necessidade de medidas mais ambiciosas e urgentes para garantir um futuro “habitável” para a humanidade. De acordo com o documento, o ritmo e a escala das medidas tomadas até agora, assim como os planos atuais, são insuficientes para lidar com as mudanças no clima.
Criado em 1998 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o IPCC é composto por representantes de 195 países membros (o Brasil, inclusive) e tem como propósito fornecer avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros. Além das análises, o IPCC também é responsável por propor opções de adaptação e mitigação.
Desde 2018 o IPCC tem avaliado o aumento da temperatura mundial em até 1,5 ºC, meta considerada necessária para garantir a sobrevivência humana. De acordo com o Painel, quase todos os cenários apontam que esse limite será ultrapassado entre 2030 e 2035, a menos que se reduza a emissão de gases de efeito estufa em praticamente a metade até o fim desta década Segundo o estudo, no momento o mundo já está 1,1ºC acima da era pré-industrial.
“A queima de combustíveis fósseis e o uso desigual e insustentável de energia e terra por mais de um século causaram um aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Como resultado, eventos climáticos extremos ocorreram mais frequentes e intensos que têm gerado impactos cada vez mais perigosos para a natureza e as pessoas em todas as regiões do mundo”, aponta o documento.
Para alcançar as metas de contenção das mudanças climáticas, o IPCC propõe ações que visam reduzir ou evitar a emissão de gases efeito estufa, como o acesso à energia e a tecnologias limpas, eletrificação de baixo carbono e estímulo ao transporte público.
Sobrevivência
Segundo o Observatório do Clima, o alerta apresentado pelo relatório do IPCC trata “do princípio mais básico, comum a qualquer ser vivo: sobrevivência”.
“Ou mudamos a rota agora, ou nos restará a catástrofe. A emergência climática deu lugar a uma situação de emergência humanitária”, afirma a organização.
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De acordo com o documento da ONU, concentração atmosférica de gás carbônico registrada em 2019 foi a maior em pelo menos dois milhões de anos. O estudo detalha que 79% das emissões globais de gases de efeito estufa vieram dos setores de energia, indústria e transporte e 22% da agricultura, silvicultura e de outras formas de uso da terra.
Vulneráveis
Sobre os riscos de ultrapassar a meta de 1,5ºC, a especialista em política climática do Observatório do Clima, Stela Herschmann reforça que a humanidade dificilmente suportaria as consequências.
“Não estamos preparados para a devastação climática que significa ultrapassar 1,5ºC. Vai nos custar mais vidas, tanto humanas quanto de inúmeras outras espécies”, destacou.
Segundo o Observatório, cerca de 3,3 bilhões de pessoas – quase metade da população da Terra, sobretudo do hemisfério sul – já vivem em condição de vulnerabilidade devido às mudanças do clima. Essas pessoas têm 15 vezes mais chances de serem mortas em um desastre climático.
Medidas
Entre as principais ações propostas pelo relatório do IPCC para evitar ou, ao menos, atenuar o cenário de emergência climática, está a redução da emissão de gases de efeito estufa em aproximadamente 43% até 2030 e 84% até 2050.
O texto também aponta que para haver uma estabilização do aumento da temperatura global em 1,5ºC, até 2050 o uso de carvão mineral precisa cair 95%, o de petróleo 60% e o de gás natural 45%. Neste sentido, o estudo aponta que o investimento anual em mitigação para 2020 a 2030 precisa ser de três a seis vezes maior do que o aplicado hoje e que as políticas públicas de redução precisam focar em transporte público e em mobilidade ativa, como o uso de bicicleta.
Durante a coletiva de imprensa sobre o relatório, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres propôs uma “agenda de aceleração” para o Pacto de Solidariedade Climática que apresentou ao países do G20. O acordo prevê que os grandes emissores façam esforços extras para cortar emissões de gases-estufa, e que os países mais ricos disponibilizem recursos financeiros e técnicos para países em desenvolvimento.
De acordo com os números do relatório, os 10% mais ricos contribuem com 34 a 45% das emissões domésticas globais de gases-estufa, enquanto os 50% mais pobres – e mais vulneráveis a desastres – contribuem com 13 a 15%.
*com informações da Agência Brasil e Observatório do Clima