Nascido na região Nordeste e espalhado por milhares de cantadores e cantadoras em todo país, o Repente foi reconhecido na última quinta-feira (11) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural do Brasil.
A manifestação, também conhecida como Cantoria, foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, onde também estão registrados bens culturais como a Roda de Capoeira, o Maracatu Nação (PE), o Carimbó (PA) e a Literatura de Cordel. O registro do Repente foi aprovado por unanimidade pelos 22 membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão vinculado ao Iphan.
Com o registro, o Repente e todo o universo de bens culturais associados, como a “embolada”, o “aboio”, a “glosa”, a “poesia de bancada” e a “declamação”, passam a ser alvos de políticas públicas para a salvaguarda da manifestação.
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Para a presidenta do Iphan, Larissa Peixoto, o reconhecimento do repente como Patrimônio Cultural do Brasil deve ser comemorado tanto pela importância histórica da manifestação quanto pela beleza das rimas e versos que, hoje, fazem parte não só da identidade cultural nordestina, mas brasileira:
“O Repente tem seu lar na região Nordeste e também noutras capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília para onde as migrações nordestinas legaram essa arte. É uma manifestação que se tornou uma das faces do Brasil”, explicou.
Registro
De acordo com o Iphan, o pedido de registro do Repente foi formalizado no ano de 2013 pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno. Desde então, a autarquia iniciou o processo de registro, que inclui a descrição detalhada da manifestação, reunião de documentação relacionada e registro audiovisual. O processo de pesquisa culminou no dossiê de registro, produzido pelo Iphan em parceria com o Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UNB).
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Com mais de 200 contatos entre repentistas, associações e apologistas, o dossiê define: “Repente é poesia. Cantada e improvisada. Em linhas gerais, é um diálogo poético em que dois repentistas se alternam cantando estrofes criadas naquele instante ao passo em que se acompanham com toques de violas”.
Segundo o Iphan, os primeiros registros da prática do Repente datam de meados do século XIX, nos estados de Pernambuco e Paraíba. A princípio, a maior parte dos repentistas tinha origem rural, vivendo no interior e cantando para plateias camponesas.
Através de entrevistas com os próprios repentistas, o dossiê produzido pela autarquia explica que os fundamentos do Repente são métrica, rima e oração. A rima diz respeito à identidade do som no final dos versos. A métrica, por sua vez, se refere à técnica de improvisar e às características da linguagem da Cantoria: quantidade de versos, modalidade das estrofes e acento de cada verso. Já por oração compreende-se a coerência e a qualidade do conteúdo dos versos. Ao todo, mais de 50 modalidades de Repente foram documentadas no dossiê de registro.
“Numa apresentação de Repente, a poesia flui em resposta aos estímulos e demandas dos ouvintes e às ideias e desafios que um poeta lança para o outro. As estrofes seguem regras bastante complexas e rígidas de rima, métrica e coerência temática, e, diante disso, fascinam pela naturalidade com que são feitas”, destaca o documento.
Trio
Após o reconhecimento da Literatura de Cordel, em 2018, e do Repente como patrimônios imateriais brasileiros, o próximo bem do amplo repertório cultural nordestino que será analisado pelo conselho consultivo vinculado ao Iphan é o Forró.
Em entrevista à Agência Brasil, o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Tassos Lycurgo, informou que a análise do pedido de registro do Forró será feita em dezembro. Para ele, o trio formado pela Literatura de Cordel, Repente e Forró tem grande importância para a cultura nacional pois é “caracterizador da identidade nordestina e, portanto, da brasileira também”.
Edição: Jaqueline Deister