Via Opera Mundi
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro em tornar Jair Bolsonaro inelegível até 2030 é considerada uma “repreensão afiada e rápida contra o ex-presidente e seu esforço de minar as eleições do Brasil” pelo jornal norte-americano The New York Times.
“Há apenas seis meses, Bolsonaro era presidente de uma das maiores democracias do mundo. Agora, sua carreira como político está em risco”, descreve o periódico.
A matéria ainda informa que Bolsonaro pode recorrer à decisão do TSE, mas sublinha que “ele atacou duramente o tribunal e muitos de seus juízes durante anos, chamando alguns deles de “terroristas” e acusando-os de tentar influenciar o voto contra ele”.
O The New York Times aponta para os outros 15 casos abertos contra o ex-presidente na Justiça Eleitoral, como acusações de uso do dinheiro público no período eleitoral e por promover campanhas de desinformação. “Qualquer um desses casos também pode impedi-lo de concorrer à presidência”, completa.
Por fim, um dos principais jornais dos Estados Unidos considera que a eleição de Bolsonaro em 2018 “foi um choque para a política brasileira”. Tendo “seu único mandato marcado por polêmicas desde o início”, como o aumento do desmatamento na Amazônia, duros ataques contra a imprensa, o judiciário e a esquerda, além de sua abordagem sobre a pandemia de covid-19, que deixou quase 700 mil mortos no Brasil.
Futuro político em dúvida
Para o inglês The Guardian, a decisão do TSE sobre Bolsonaro faz com que seu “futuro político seja posto em dúvida”. O jornal ressalta a proibição do político em concorrer as próximas duas eleições presidenciais por “abusar de seus poderes e vender mentiras imorais e terríveis durante e a eleição amarga do ano passado”.
“A votação de sexta-feira pode ser apenas o primeiro de uma série de golpes na sorte política de Jair Bolsonaro. Ele também enfrenta investigações criminais sobre alegações de que incitou deliberadamente os distúrbios de 8 de janeiro, envolvimento na falsificação de certificados de vacinação contra o coronavírus e tentativa de se apossar de joias caras oferecidas pelo governo da Arábia Saudita”, completa a matéria.
Narrativa delirante
O jornal argentino Pagina12, destaca a argumentação do TSE para a decisão: “narrativa delirante com efeitos desastrosos para a democracia”, apontando que tal postura do ex-presidente “não foi um ato isolado”.
O periódico argentino também aponta que Bolsonaro não compareceu a nenhuma sessão durante o julgamento do TSE.
Reação de Bolsonaro
Já o alemão Deutsche Welle dedicou um trecho de sua matéria noticiosa para registrar a reação do representante da extrema-direita brasileira.
“Bolsonaro voltou a atacar o processo eleitoral e a espalhar teorias conspiratórias sobre vacinas e urnas enquanto falava com jornalistas, abandonado a postura atipicamente ‘calma’ que vinha adotando nos últimos dias, antes da conclusão do julgamento”, apontou o jornal.
O registro também traz a comparação que Bolsonaro fez de si mesmo com Jeanine Añez, política de direita da Bolívia condenada a dez anos de prisão por ter realizado um golpe de Estado contra Evo Morales.
Alívio e entrevista com Comissão Arns
Apesar da intensa cobertura dos protestos em Paris, o francês Les Echos noticiou a decisão do TSE por meio de um repórter correspondente em São Paulo, juntamente com uma entrevista com Paulo Sergio Pinheiro, membro da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Comissão Arns.
A reportagem deu destaque às declarações de Pinheiro, como “esta decisão é essencial para a sobrevivência da democracia no Brasil. Porque durante quatro anos, Bolsonaro lutou contra as instituições democráticas”.
Les Echos questiona, por fim, a reação de Bolsonaro, afirmando que apesar de poder recorrer à decisão “o desfecho da briga não lhe pareça favorável”.
Reportagem Duda Blumer