Redação
Nesta terça-feira (14), completam-se cinco anos da morte de Marielle Franco (PSOL-RJ) e Anderson Gomes. A vereadora e o motorista foram assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018, quando saíam de um evento na região central do Rio de Janeiro. Apesar da repercussão internacional do caso, até hoje, após meia década de investigações, ninguém foi condenado pelo crime e os mandantes sequer foram identificados.
Em fevereiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou a abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) para apurar as circunstâncias do duplo homicídio. Com a medida, a PF se soma à Polícia Civil do Rio de Janeiro e ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) nas investigações.
Nesta terça, a família da vereadora se reuniu com o Procurador-Geral de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Mattos, para cobrar respostas sobre quem mandou matar Marielle e por que. Em publicação do Instituto Marielle Franco nas redes, os familiares destacam que, em janeiro deste ano, todos os membros responsáveis pela Força-Tarefa do caso pediram exoneração.
“Apenas às vésperas do marco de 5 anos do assassinato o Ministério Público anunciou a nova equipe, a qual, infelizmente, não tem dedicação exclusiva ao caso. Até hoje os advogados das famílias das vítimas não tem acesso à investigação dos mandantes e ninguém foi julgado ou condenado pelo crime. Chegamos aqui com muita dor, saudades e luta, queremos justiça por Marielle e Anderson!”, diz o texto.
Investigações
Nos últimos cinco anos, o caso Marielle e Anderson já passou por três governos, cinco delegados e diferentes forças-tarefas. Em 2018, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, chegou a apresentar denúncia de irregularidades na condução das investigações, como o desvio das apurações com inserção de declarações falsas e fraude processual.
Atualmente, além da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), são responsáveis pelas investigações o procurador e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, Luciano Lessa, e o delegado federal Guilherme de Paula Catramby.
Até o momento, os únicos suspeitos identificados são os ex-policiais militares Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos, e Élcio de Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no crime. Embora aleguem inocência, ambos foram presos em março de 2019 e se tornaram réus pelos homicídios.
O veículo utilizado pelos criminosos no dia do assassinato – um Cobalt prata com placa clonada – até hoje não foi localizado, assim como a metralhadora HK MP5, que segundo os peritos do Instituto Criminal Carlos Éboli (ICCE), serviu como arma para matar Marielle e Anderson.
Justiça
Em publicação dirigida ao ministro Flávio Dino, a Anistia Internacional afirma ser “estarrecedor que as autoridades estaduais e federais sigam falhando sistematicamente na resolução dos assassinatos de Marielle e Anderson”. A organização reivindica, inclusive, que o Estado Brasileiro estabeleça, por meio de cooperação internacional, um mecanismo internacional de especialistas independentes para apoiar o Ministério Público, a polícia e outras instituições de Estado nas investigações do caso.
Na página “Hora de Fazer Justiça”, criada para pressionar o governo a desvendar o caso, a Anistia afirma que as investigações sobre a morte de Marielle e Anderson se tornaram um “labirinto” digno de “uma série de pelo menos 15 temporadas”.
“Nós não queremos assistir a uma nova temporada dessa série e exigimos uma solução definitiva para este crime brutal que continua, até hoje, gerando sofrimento e dor aos familiares e amigos de Marielle e Anderson, que querem que a justiça seja feita. Cobraremos das autoridades para que cumpram seu papel e tenhamos o episódio final”, conclui o texto de apresentação da página.
Homenagens
Desde o início do dia, diversas homenagens tem sido feitas a Marielle Franco em cidades de todo país. São centenas de faixas, cartazes, eventos e até esculturas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, uma estátua de onze metros da vereadora foi inaugurada no pilotis do Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá, na Zona Portuária da cidade. A estrutura montada com placas de alumínio e metal ficará no local até o fim do mês e, depois, deve rodar o país.
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A Zona Portuária do Rio também será palco do Festival “Justiça por Marielle e Anderson – 5 anos sem respostas”. O evento contará com a participação de diversos artistas como Djonga, Luedji Luna, Azula, Marcelo D2 e Bia Ferreira. Também estão na programação a Bateria da Mangueira, o Coral Talentos do Morro e a Orquestra Maré do Amanhã.
Legado
Para além do dia 14 de março, o legado de Marielle também deve continuar vivo através dos deputados e deputadas comprometidos com a chamada “Bancada Marielle”.
O grupo é composto por 44 parlamentares eleitos no último pleito, tanto para a Câmara dos Deputados como para as Assembleias Legislativas de diferentes estados. Entre eles estão, por exemplo, as deputadas estaduais Dani Monteiro (PSOL-RJ) e Laura Sito (PT-RS), as deputadas federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Carol Dartora (PT-PR), Célia Xakriabá (PSOL-MG), Benedita da Silva (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ).
Os eixos de atuação da bancada são justiça econômica e social; justiça racial e segurança pública; gênero, sexualidade e justiça reprodutiva; direito à cidade, à favela e à periferia; saúde pública gratuita de qualidade e integral; educação pública gratuita; cultura e memória e justiça ambiental, climática e direito à terra e ao território.
* Com informações do Brasil de Fato, O Globo e Folha de S. Paulo