

Pela primeira vez na história das relações bilaterais entre União Europeia (UE) e América Latina, o bloco europeu reconheceu oficialmente a posição latino-americana sobre a questão das Ilhas Malvinas no âmbito da reivindicação histórica de soberania da Argentina sobre o arquipélago.
Na última semana, durante o 3º Encontro entre a União Europeia e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), realizado na Bélgica, a Argentina conseguiu incluir na Declaração Conjunta entre os blocos regionais uma menção que sublinha a importância do diálogo e do respeito pelo direito internacional em relação à questão das Ilhas Malvinas. A Declaração foi oficializada esta semana e foi considerada pelas autoridades argentinas como um avanço diplomático significativo em relação ao tema.
A importância da documento reside no fato da União Europeia “tomar nota” de que a questão da soberania sobre as Malvinas não é apenas uma posição argentina, mas a “posição histórica” de toda a América Latina e do Caribe. As referências ao “diálogo e ao respeito pelo direito internacional na resolução pacífica das divergências” são uma clara alusão à recusa britânica de reabrir as negociações sobre a soberania.
O Governo britânico, por sua vez, considerou “lamentável” a escolha das palavras utilizadas para se referir às ilhas do Atlântico Sul, que até então eram designadas apenas por “Falkland”.
O chanceler da Argentina, Santiago Cafiero, considerou que a Declaração Conjunta representa um apelo da comunidade internacional para que o Reino Unido aceite retomar as negociações de soberania com a Argentina.
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O conflito sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul, Sandwich do Sul e zonas marítimas circundantes, situadas no Mar da Argentina, a cerca de 600 km do extremo sul do país, teve origem em 3 de janeiro de 1833. Na ocasião, o Reino Unido ocupou ilegalmente as ilhas e expulsou as autoridades argentinas, impedindo o seu regresso e a fixação dos argentinos do continente.
Atualmente, as ilhas representam um enclave colonial do Reino Unido em território latino-americano com importante valor estratégico, econômico e militar, pois o controle das ilhas permite dominar o tráfego marítimo através da passagem que liga o Atlântico ao Pacífico. Ao mesmo tempo, são um ponto de projeção para a Antártida, reservatório de 80% da água doce do mundo.
Longe de ser um território pacífico, o Reino Unido instalou nas ilhas, em Mount Pleasant, a base militar mais importante do Atlântico Sul, com uma importante projeção naval e aérea e capacidade para utilizar armas nucleares.
Por todas estas razões, a questão das Malvinas não é apenas um problema argentino e latino-americano, mas também dos projetos estratégicos e esquemas de poder que atualmente disputam a configuração da ordem mundial. O apelo latino-americano a uma verdadeira política de descolonização do mundo tem não apenas fundamentos éticos, como também uma grande importância para os destinos geopolíticos do mundo.
Edição: Filipe Cabral