Mais de 30 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas após as intensas chuvas da última semana nos estados da Bahia e Minas Gerais.
De acordo balanço divulgado nesta terça-feira (13) pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia, cerca de 69 mil pessoas no estado foram afetadas pelas enchentes, sendo 15.199 desalojadas e 6.371 desabrigadas. Em Minas, a Defesa Civil Estadual estima que pelo menos 8.720 pessoas tiveram que sair de suas residências desde a última terça-feira (7), quando começaram as chuvas.
Além do prejuízo causado aos moradores, o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica também foram afetados em algumas localidades. Municípios como Crisólita (MG) e Apuarema (BA) registraram ainda o rompimento de barragens, pontes e alguns trechos de estradas, que tiveram que ser desviadas.
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Na sexta-feira (10), o governo federal reconheceu a “situação de emergência” por decorrência de “tempestade” e “chuvas intensas” em 31 municípios mineiros e 24 baianos.
Emergência
Em visita realizada no último domingo (12) à região afetada pelas chuvas na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que mobilizaria as Forças Armadas e a criaria uma força-tarefa integrada por cinco ministérios para atender às famílias atingidas. O presidente também prometeu o repasse de R$ 5,8 milhões de reais do Ministério do Desenvolvimento Regional aos municípios baianos de Eunápolis, Itamarajuru, Jucuruçu, Ibicuí, Ruy Barbosa, Itaberaba e Maragogipe.
Além disso, no sábado (11), a Caixa Econômica Federal prometeu liberar o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para moradores dos municípios que tiverem o estado de calamidade reconhecido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. De acordo com a Caixa, os trabalhadores terão direito a resgatar o saldo do FGTS até o limite de R$ 6.220.
Em entrevista ao UOL, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), criticou as medidas de apoio anunciadas pelo Palácio do Planalto. Segundo ele, o valor de cinco milhões dividido para sete municípios “é ridículo em termos de anúncio de um presidente”. Sobre a liberação do FGTS, o governador afirmou que a proposta do governo federal não significa nada mais que liberar uma verba que, por direito, já pertence às cidadãs e cidadãos.
O petista, que também visitou a região inundada no final de semana, classificou a visita do presidente como “um ato político de campanha” e fez questão de destacar a a realização de uma carreata em pleno cenário de tragédia e a agressão a jornalistas das TVs Bahia e Aratu praticada por seguranças e apoiadores de Bolsonaro.
Solidariedade
Enquanto o apoio dos governos começa a chegar, movimentos populares e organizações sociais estão em ação desde quarta-feira (8), dia seguinte ao início das chuvas, prestando cuidados às famílias atingidas. Segundo Aimberê Jardim, do setor de saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) da Bahia, centenas de pessoas tem se mobilizado para tarefas que vão desde a distribuição de refeições e roupas em abrigos públicos até o acompanhamento médico e a limpeza de casas.


De acordo com o militante, logo no primeiro dia após a tragédia, o MST e organizações parceiras percorreram a cidade de Itamaraju (BA) com caminhões para auxiliar as famílias a transportar os pertences que restaram para locais seguros. Em seguida, foi a vez de arrecadar e distribuir agasalhos e organizar uma cozinha comunitária para servir refeições à população desabrigada:
“Nós construímos uma cozinha solidária em uma das escolas da comunidade, trouxemos cozinheiras e temos entregado cerca de mil marmitas por dia. Quinhentas no almoço e quinhentas no jantar”, explica Aimberê, que destaca a experiência adquirida pelo movimento ao longo dos anos para lidar com situações trágicas como esta.
“Nós, do movimento, já temos esse perfil de identificar as necessidades e o que está faltando para cada família. Mais que isso, com a nossa experiência de organização popular a gente poder fazer um trabalho que atinja com mais ênfase a dificuldade de cada um”, explicou à Pulsar Brasil.
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Ainda de acordo com Jardim, com a estiagem das chuvas tem sido importante também o auxílio no retorno dos moradores para as casas. Segundo ele, os voluntários tem reforçado as orientações da Defesa Civil em casos de residências que estão em áreas de risco e tem auxiliado na limpeza e retirada de lama das casas que podem ser recuperadas.
Aimberê ainda chama atenção para o acompanhamento que tem sido prestado às pessoas, sobretudo idosos, por uma rede de profissionais de saúde voluntários. Segundo ele, municípios como Itamaraju tem registrado surtos de Chicungunya após as chuvas e estão com os hospitais lotados. Além disso, muitas pessoas que sofrem, por exemplo, de hipertensão e diabetes, teriam perdido seus medicamentos com as enchentes.